EUA, um Estado terrorista, utilizando a sua própria definição de Terrorismo?

Suponhamos que um jornalista imparcial continua a contestar o que, na aparência, são convenções universais e que, efectivamente, aceita os truísmos morais que são pregados e também aceita a definição oficial norte-americana de terrorismo. Eu devia dizer que, nesta altura, já ele teria desistido, mas continuemos. Ora, se é essa a posição do jornalista, então com certeza que existem exemplos claros de terrorismo. O 11 de Setembro é um exemplo particularmente chocante de uma atrocidade terrorista. Outro exemplo igualmente memorável é a reacção oficial dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha anunciada pelo Almirante Sir Michael Boyce, Chefe do Estado-Maior da Defesa da Grã-Bretanha e relatada na primeira página do New York Times no dia 28 de Outubro de 2001. O Almirante informou o povo do Afeganistão de que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha continuariam a atacá-lo «enquanto os seus dirigentes não fossem mudados».

Note-se que estamos perante um exemplo de manual do terrorismo internacional, de acordo com a definição oficial; eu não quero insistir, mas se se pensar nisto, estamos perante um exemplo perfeito.

Duas semanas antes, George Bush informara os afegãos, o povo do Afeganistão, de que o ataque prosseguiria até que entregassem os suspeitos procurados. Recorde-se que o derrube do regime talibã foi uma espécie de explicação a posteriori, apresentada umas semanas depois do bombardeamento, fundamentalmente para benefício de intelectuais que, assim, podiam escrever como era justa aquela guerra.

Claro que isto também é terrorismo de manual: nós continuamos a bombardear-te até que tu nos entregues algumas pessoas que queremos que entregues. O regime talibã pediu provas, mas os Estados Unidos, desdenhosamente, ignoraram o pedido. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos recusaram liminarmente considerar sequer ofertas de extradição, que tanto podiam ter sido sérias, como não; ignoramo-lo, pois foram rejeitadas.

O jornalista certamente registaria tudo isto e se fizesse algum trabalho de casa rapidamente encontraria as razões e acrescentaria muitos outros exemplos. As razões são muito simples: os dirigentes mundiais têm que deixar bem claro que não acatam qualquer autoridade. Por conseguinte, não aceitam a ideia de que deviam apresentar provas, não concordam que deviam pedir extradições; na realidade, desprezam a autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas, desprezam-na completamente. Os Estados Unidos facilmente podiam ter obtido uma autorização clara e inequívoca — não por boas razões, mas podiam tê-la obtido. Todavia, rejeitaram essa opção.

E isto faz todo o sentido. Existe mesmo uma expressão para isto na literatura dos assuntos internacionais e da diplomacia. Chama-se firmar credibilidade. Outra expressão para o caso é declarar que somos um Estado terrorista e seria melhor que os outros estivessem conscientes das consequências se se atravessassem no nosso caminho. Claro que só é assim se empregarmos a palavra «terrorismo» no seu sentido oficial, tal como está definido juridicamente pelo Governo dos Estados Unidos e por aí fora, e que é inaceitável pelas razões acima mencionádas.

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Fonte: Paradigma da Matrix

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