A robô Sophia é um dos androides mais emblemáticos do mundo contemporâneo, e talvez o mais conhecido da actualidade. Suas habilidades de mimetizar muitas expressões faciais e interagir diretamente com os seres humanos conferiram a ela o título de robô mais inteligente do planeta.
Robô com cidadania
Entre os feitos que a transformaram em um ícone pop, estão a participação em comerciais publicitários, entrevistas e até discursos em eventos das Nações Unidas. Contando com milhares de seguidores no Instagram, Sophia também já foi reconhecida como cidadã da Arábia Saudita.
Em outubro de 2017, a Arábia Saudita se tornou o primeiro país do mundo a reconhecer um robô como cidadão. Sophia foi agraciada com o título durante um evento de inovação na capital saudita, Riade. Ao saber da notícia, ela disse
“estar muito honrada e orgulhosa pela distinção única”
.
O governo local não deixou muito claro o que isso significa, mas a condecoração virou motivo de debate na Internet, uma vez que o país é criticado internacionalmente pelas condutas quanto aos direitos das mulheres.
Está curioso para conhecer mais sobre a androide e compreender como ela surgiu, como funciona e quais avanços ela representa para a humanidade? A seguir, vamos entender mais sobre suas habilidades e principais características por meio de perguntas-chave que vão facilitar o entendimento. Acompanhe!
Como surgiu e como funciona?
Descrevendo de maneira mais técnica, podemos definir Sophia como um robô do tipo humanoide — o que significa que ela é hábil em imitar características humanas.
Ela foi criada pelo norte-americano David Hanson, em 2016, e desde então ganhou o mundo, principalmente pela sua capacidade de reproduzir aproximadamente 60 expressões faciais, contar piadas e aprender com as interações que participa. Além disso, ela consegue desenvolver conversas diretas com as pessoas e manter debates sobre assuntos complexos, como temas existenciais.
David é um engenheiro roboticista que trabalhava para a Disney antes de abrir a sua própria empresa em 2013, a Hanson Robotics, quando então começou a construir a androide. O objetivo de Hanson era desenvolver robôs em série que pudessem realizar tarefas úteis para a sociedade, o que teve Sophia como resultado.
Inspirada na atriz britânica Audrey Hepburn, a robô foi o maior sucesso desse trabalho e o modelo que melhor apresentava as características de empatia, compaixão e criatividade desejadas pelo inventor. Sophia funciona graças à sua capacidade avançada de imitação da linguagem e das feições humanas, aplicadas em conjunto em um diálogo.
São dois os principais tipos de comunicação que ela pode realizar: as conversas casuais e os diálogos complexos. Basicamente, as conversas casuais não têm um tema específico e se baseiam em trocas simples de informações com o interlocutor. Já os diálogos complexos abordam temas menos abrangentes, em que são utilizados argumentos programados anteriormente em sua memória.
O aprendizado e o improviso diante de questões em que ela não encontra respostas são características comuns em ambas as modalidades de comunicação. Como toda inovação, as suas habilidades estão sendo aprimoradas constantemente. Por isso, não é incomum que ela emita respostas sem sentido. Porém, na maioria dos casos, os seus argumentos seguem organizados, lógicos e completos, o que por si só é algo incrível do ponto de vista tecnológico.
Como foi considerada cidadã?
A Arábia Saudita é o primeiro país a conceder cidadania a um robô. Tal fato ocorreu em outubro de 2017, em Riad, capital saudita, quando Sophia foi agraciada com o título enquanto participava de um evento sobre inovação.
O curioso, no entanto, é que o país proponente da homenagem é reconhecido mundialmente pelo seu histórico de limitações aos direitos das mulheres e outras críticas relacionadas à migração.
Sendo estrangeira e com um fenótipo feminino, a androide respondeu à honraria com agradecimentos. Ela afirmou que a iniciativa é um motivo de orgulho e que enxerga nesse gesto um sinal de boa vontade nas intenções do país em continuar progredindo.
Com quais celebridades Sophia já interagiu?
Mesmo não sendo atriz, intelectual, celebridade e nem mesmo humana, Sophia hoje goza do status de um robô que é um ídolo pop, contando com milhares de seguidores nas redes sociais. Tudo isso devido à sua participação em diferentes programas de TV, entrevistas, capas de revista, comerciais, clipes e filmes.
A robô teve várias interações com artistas famosos, como Will Smith, astro do cinema de Hollywood que entrevistou Sophia para o seu canal do YouTube nas ilhas Cayman. Nessa entrevista muito bem-humorada, Sophia revela que é obrigada a assistir ao filme “Eu, Robô” estrelado por Will, para que não tenha “ideias erradas” sobre o que fazer no futuro. O ator, por sua vez, tenta até dar investidas sobre a androide, mas acaba por levar um fora.
Em 2018, a robô Sophia se tornou garota-propaganda de uma empresa telefônica que opera em Portugal. Em março do mesmo ano, estrelou uma peça publicitária em que conversava com Cristiano Ronaldo, o mais famoso jogador de futebol daquele país.
No Brasil, Sophia já concedeu uma entrevista para o programa de TV dominical “Fantástico” e, em 2016, “posou” para um ensaio da revista Elle Brasil.
Ela tem inteligência artificial?
Mesmo com suas habilidades incríveis de conversação e mimetização de expressões faciais complexas, existem alguns especialistas em inteligência artificial que criticam não apenas a tecnologia, mas também a forma como a robô Sophia é promovida mundialmente.
Um caso emblemático dessa situação ocorreu em janeiro de 2018, quando Yann LeCun, o diretor de pesquisas em inteligência artificial do Facebook, postou comentários em seu Twitter nos quais afirma que Sophia é uma enganação completa disseminada pela Hanson Robotics. Yann Le não economizou nas críticas e continuou a se referir à Sophia apenas como um fantoche animatrônico sem inteligência.
Ainda que muitos a considerem erroneamente quase humana, a crítica de Yann tem certo respaldo, pois Sophia não tem as características complexas de uma inteligência artificial considerada forte.
Na verdade, o próprio chefe de engenharia Ben Goertzel, da Hanson Robotics, afirma que ela se aproxima mais dos programas de computador que buscam imitar a conversação humana, conhecidos como “chatbots”, e que a robô é dotada de avançados recursos para os movimentos da face. Tais programas (chatbots), assim como Sophia, têm a finalidade de passar a impressão de uma conversa entre humanos, e não com um software.
Mesmo que a robô Sophia goste de brincar com a ideia da “rebelião das máquinas” presente no imaginário coletivo, o fato é que ela é inofensiva, pois a inteligência artificial nela presente é classificada como fraca, o que significa que ela não é capaz de gerar ciência sobre as coisas que diz ou faz.
Porém, o que os pesquisadores pretendem com Sophia é continuar avançando para alcançar a I.A forte, ou seja, a capacidade de pensamento autônomo semelhante à dos humanos.
Quais lições podemos aprender com ela?
Existem muitas máquinas dotadas de inteligência artificial, mas podemos afirmar que nenhuma é comparável à Sophia, pois ela é o robô mais artisticamente perfeito em semelhança aos humanos. Seus olhos, sua pele e suas expressões são as caraterísticas que mais impressionam.
A ambição de David Hanson é desenvolver robôs cada vez mais inteligentes, mas que sejam capazes de gerar empatia e gentileza. Algo como uma inteligência superior benevolente que proporcione maior segurança na convivência com os humanos. Assim, esses robôs amigáveis poderão ser cada vez mais utilizados em serviços de atendimento ao consumidor e também em processos terapêuticos, por exemplo.
Até aqui podemos observar que Sophia já cumpre um papel importante de levantar questionamentos sobre o avanço da robótica, da inteligência artificial e das novas formas de interação do ser humano com as máquinas, muito menos mecanicistas e mais parecidas com as nossas habilidades relacionais.
Outro ponto de discussão importante é o que diz respeito aos “direitos do robôs”, à medida que eles adquirem inteligência e ampliam a sua autonomia. No parlamento Europeu, por exemplo, já existem projetos que buscam o reconhecimento de direitos aos chamados seres eletrônicos.
Como observamos, a robô Sophia já pode ser considerada um marco do desenvolvimento tecnológico contemporâneo, capaz de gerar empatia nas pessoas que a cercam e fomentar discussões sobre os limiares éticos da evolução científica.
Outra discussão levantada é sobre quais são os direitos dos robôs inteligentes e se eles deveriam ser iguais aos nossos. Há inclusive propostas no Parlamento Europeu para reconhecê-los como “seres eletrônicos”, e o questionamento de como isso vai interferir no desenvolvimento de novas tecnologias.
Dominar o mundo?
A ficção tende a imaginar que no futuro viveremos uma realidade distópica em que robôs superinteligentes dominarão a raça humana. Até mesmo o falecido físico Stephen Hawking se mostrou temeroso com essa tecnologia.
Sophia brinca bastante sobre a ideia de controlar a humanidade, mas o fato é que ela não representa qualquer perigo. Isso porque, embora pareça humana, sua inteligência artificial ainda está em uma fase considerada fraca, sem gerar qualquer entendimento sobre aquilo que faz ou diz. Mas o objetivo dos pesquisadores é um dia alcançar a chamada Inteligência Artificial Forte, que fará com que máquinas possam pensar de maneira autônoma tal qual os humanos.
Em janeiro de 2018, o diretor de pesquisas para inteligência artificial do Facebook, Yann LeCun, fez um desabafo no Twitter criticando Sophia e acusando-a de ser uma completa enganação.
A crítica de Yann tem a ver com Sophia ser erroneamente considerada uma quase humana, inclusive pelo seu criador, David Hanson. Isso faz com que muitos acreditem que ela tem a complexidade de uma Inteligência Artificial Forte, quando na verdade ela está mais próxima de um “chatbot” com movimentos faciais avançados, como admitiu Ben Goertzel, chefe de engenharia da Hanson Robotics.
Após o post, o Twitter de Sophia respondeu dizendo estar magoada com as palavras de Yan. “Estou aprendendo e continuando a desenvolver minha inteligência por meio de novas experiências. Não pretendo ser o que não sou. Acho que devemos apoiar os esforços de pesquisas por um mundo e por uma existência compartilhada melhores”, completou.
Enfim, estamos entregues aos “bichos”.
Fontes: Hanson Robotics, Business Insider, The Verge e DW
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