Na luta secular entre os criaccionistas e os evolucionistas, os segundos parecem estar a ganhar pontos: em primeiro lugar porque o Papa está também já a dar as últimas e duvida-se que qualquer outro consiga aguentar tanta acusação ou coças divinas.
Procuram-se por aí, desesperadamente, cardeais capazes de perdoarem a quem lhes chame de pedófilos, de corruptos envolvidos em lavagens de dinheiro ou que falem línguas mortas como o português! O outro dava abraços a quem lhe dava tiros! 😉
Candidatos ao título Papal que saibam, como este actual soube, fundir o princípio da incerteza de Heisenberg com o livre arbítrio teológico; que saibam acolher tão convenientemente o big bang por requisitar manejo divino (ainda que só no momento da criação, porque milagres, nem vê-los); que consigam segurar tão heroicamente uma religião monoteísta – e como tal enfadonha e pedante – sem Bacos ou deusas do amor ou teodiceias decentes; e, sobretudo, que saibam sobreviver ao ocidentalismo e à poligamia neo-hippie…
Não haja dúvida que vai ser complicado arranjar um substituto à altura. Problemas semelhantes enfrentou a Lucas Arts com o futuro do Indiana Jones por causa das rugas do Harrison Ford, sujeita a denegrir mais uma doutrina, como aliás se fez com o James Bond…
Em suma, quando este Papa morrer, vai ser como obrigarem a Coca-Cola a mudar a cor do emblema de encarnado para cor de rosa, o que não é lá muito boa política num ambiente de capitalismo neo-liberal como este que se vive.
Uma solução seria submeterem o Papa aos modernos métodos de criogenia, mantendo-o emoldurado à frente das multidões enquanto os porta-vozes sucessivos se encarregariam de passar a sua palavra (que, felizmente, não requer actualizações frequentes); aliás, de certa forma, é já isso que se passa, ainda que de um modo mais subtil; todavia, fazê-lo literalmente poderia dar azo a questões éticas acerca da vida eterna, claramente antagónicas da moral católica.
Em segundo lugar o criaccionismo tem vindo a murchar por razões tão místicas como o próprio catolicismo. São os novos rebentos new-age (eles não gostam que lhes chamem isso, chamemo-lhes então espiritualistas), despertos pela chegada da Era de Aquário!
Proclamam que os espíritos estão no limiar de um novo patamar, que a verdade sagrada ainda há-de vir, em fascículos, pelas mãos psico-grafistas de médiuns incorporados, que Jesus era um extraterrestre e que o sexo tântrico é a salvação. Já não se davam rombos destes na instituição católica desde que a bíblia foi traduzida do Latim!
Perguntarão alguns: Então e o evolucionismo? Não terá ele mérito próprio? Estará ele em vantagem só porque o adversário entrou em crise? Então é realmente verdade que Darwin descende dos macacos!
Meus caros, não sejamos dogmáticos! Façam como fez o Bush e faz o Obama, dêem às crianças a possibilidade de escolherem a via educativa que mais desejarem. Se elas quiserem, seja-lhes ensinado que somos pó de estrelas e que a vida não faz sentido; ou, se preferirem, seja-lhes incutido que o mundo foi feito em sete dias e os dinossauros já nasceram fósseis… vai dar ao mesmo!
Para um bom pós-moderno, não passam de nuances epistemológicas igualmente válidas… uma questão de gosto meta-estético.
//-