WikiLeaks, o site que publica informações secretas

Com informações do Observatório da Impresa, do UOL e do El País!

para a revista alemã “Der Spiegel”, Assange, 39, fala sobre a sua decisão de publicar os registros da guerra, sobre o difícil equilíbrio entre o interesse público e a necessidade de segredos de Estado. A entrevista foi traduzida e publicada pelo UOL e está reproduzida mais abaixo.

No último domingo, dia 27, a WikiLeaks, uma organização online que publica documentos secretos de governos ou empresas, fornecidos por fontes que não querem se identificar, fez o maior “vazamento” de sua história: postou em seu site mais de 91 mil relatórios militares confidenciais sobre a guerra do Afeganistão.

Em entrevista ao “New York Times”, o fundador da organização, Julian Assange, afirmou que os documentos revelam crimes de guerra e um nível mais amplo e denso de violência no Afeganistão do que já foi divulgado pelos militares ou reportado pela mídia. “Eles mostram não apenas incidentes graves como também a sordidez da guerra, [com informações que vão] da morte de algumas crianças a grandes operações que matam centenas de pessoas”, resume Assange. Segundo ele cerca de 15 mil documentos não entraram no relatório por conta de questões de segurança — para não colocar a vida de americanos ou afegãos em perigo — e passariam por nova avaliação.

No jornal El País (em espanhol) que relata outras revelações feitas pelo site, entre as quais a denúncia de que uma empresa britânica, a Trafigura, pagou a uma empresa local da Costa do Marfim, em 2001, para descartar 400 toneladas de gasolina de baixa qualidade. A empresa contratada jogou a gasolina em vários lugares ao redor da capital da Costa do Marfim, Abidjan, o que levou 85 mil pessoas a necessitar de cuidados médicos.

Leia a entrevista a Der Spiegel:

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, fala sobre os “Registros da Guerra”

“Em uma entrevista a “Der Spiegel”, o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, 39, fala sobre a sua decisão de publicar os registros da guerra, sobre o difícil equilíbrio entre o interesse público e a necessidade de segredos de Estado e diz por que acredita que as pessoas que fazem a guerra são mais perigosas do que ele.

Spiegel: Você está prestes a publicar uma grande quantidade de dados sigilosos sobre a guerra do Afeganistão. Qual é a sua motivação para fazer isso?

Assange: Esses arquivos se constituem na mais ampla descrição de uma guerra a ser publicada no decorrer do conflito. Em outras palavras, em um momento no qual ainda há uma possibilidade de que esses arquivos gerem algo de bom. Eles cobrem mais de 90 mil incidentes diferentes, bem como locais geográficos precisos, e episódios de pequena e grande magnitude. Reunidos em um conjunto unificado de informações, eles eclipsam tudo o que se disse anteriormente sobre o Afeganistão. Esses arquivos modificarão o nosso ponto de vista não só sobre a guerra do Afeganistão, mas também sobre todas as guerras modernas.

Spiegel: Você acredita que a publicação desses dados venha a influenciar os indivíduos que tomam as decisões políticas?

Assange: Sim. Esse material revela a brutalidade e a sordidez cotidianas da guerra. O arquivo modificará a opinião pública e também a opinião daqueles indivíduos que ocupam cargos de influência política e diplomática.

Spiegel: Será que você não está esperando um pouco demais?

Assange: Existe um clima favorável ao término da guerra do Afeganistão. Essas informações, sozinhas, não acabarão com a guerra, mas elas modificarão a vontade política de uma forma significante.

Spiegel: O material contém segredos militares e nomes de fontes. Ao publicá-lo, você não estaria colocando em risco as vidas dos soldados das tropas internacionais e dos seus informantes no Afeganistão?

Assange: Os arquivos de Cabul não contêm informações relativas às ações atuais das tropas. As fontes usaram os seus próprios processos para minimizar os possíveis estragos e pediram que nós fizéssemos a nossa revisão usual para garantir que não houvesse uma probabilidade significativa de indivíduos inocentes virem a ser negativamente afetados. Nós compreendemos a importância de proteger fontes confidenciais, e entendemos por que é importante proteger certas fontes dos Estados Unidos e da ISAF (sigla em inglês de Força Internacional de Assistência para Segurança).

Spiegel: Assim sendo, o que, especificamente, você fez para minimizar qualquer possível dano?

Assange: Nós identificamos os casos nos quais poderia haver uma chance razoável de danos a pessoas inocentes. Esses registros em particular foram identificados e editados de forma apropriada.

Spiegel: Existe algo nos registros que você considera um legítimo segredo de Estado?

Assange: Existe um papel legítimo para o secretismo, e também há um papel legítimo para a transparência. Infelizmente, aqueles que cometem abusos contra a humanidade ou a lei não veem problema em usar o secretismo legítimo para ocultar os abusos que cometeram. As pessoas de boa consciência sempre revelaram tais abusos, ao ignorarem as restrições abusivas à informação. Não é o WikiLeaks que decide revelar determinada coisa. Quem decide é um informante ou dissidente que resolve revelar as informações de que dispõe. O nosso trabalho consiste em assegurar que esses indivíduos sejam protegidos, que a população seja informada e que os registros históricos não seja negados à sociedade.

Spiegel: Mas, no fim das contas, alguém tem que decidir se publica ou não as informações. Quem determina o critério para isso? O WikiLeaks se considera um pioneiro no que diz respeito à liberdade de informação, mas ele carece de transparência no que se refere às suas próprias decisões de publicar determinadas informações.

Assange: Esta alegação é ridícula. Nós somos muito claros em relação àquilo que publicaremos ou não. Nós não tomamos decisões editoriais ad hoc. Além do mais, sempre divulgamos as fontes primárias integrais dos nossos artigos. Que outra organização de imprensa conta com padrões tão estritos? Todos deveriam tentar seguir o nosso exemplo.

Spiegel: O problema é que é difícil fazer com que o WikiLeaks seja responsabilizado pelas informações divulgadas. Vocês operam os seus servidores da Internet em países que lhes oferecem ampla proteção. O WikiLeaks se considera acima da lei?

Assange: O WikiLeaks não existe no espaço sideral. Nós somos pessoas que vivem na Terra, em nações específicas, cada uma das quais possuindo um código particular de leis. Nós fomos alvos de processos legais em vários países. E vencemos todas essas batalhas. São os tribunais que decidem a lei, e não corporações ou generais. A lei, conforma expressa por constituições e tribunais, tem estado do nosso lado.

Spiegel: Você disse que existe uma correlação entre a transparência pela qual vocês estão lutando e uma sociedade justa. O que você quer dizer com isso?

Assange: Reformas só podem ocorrer quando a injustiça é revelada. A oposição a um plano injusto antes que ele seja implementado significa impedir que se cometam injustiças.

Spiegel: Durante a Guerra do Vietnã, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, afirmou certa vez que Daniel Elsberg, o vazador dos Documentos do Pentágono, era o homem mais perigoso do país. Atualmente você é o homem mais perigoso ou o mais ameaçado?

Assange: Os homens mais perigosos são aqueles que fazem a guerra. E eles precisam ser parados. Se isso me faz perigoso aos olhos deles, tudo bem.

Spiegel: Você poderia ter criado uma companhia no Vale do Silício e estar morando em uma casa com piscina em Palo Alto. Por que foi que, em vez disso, você decidiu criar o projeto WikiLeaks?

Assange: Nós só temos uma vida. Portanto, temos a obrigação de usar bem o tempo do qual dispomos e de fazer algo que seja significante e satisfatório. E isso que faço é algo que eu considero significante e satisfatório. Este é o meu temperamento. Eu gosto de criar sistemas de grande escala, e gosto de ajudar pessoas que estejam vulneráveis. E, além do mais, adoro esmagar indivíduos inescrupulosos. Portanto, este é um trabalho agradável.

Fonte: Der Spiegel

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