Cientistas holandeses mostraram que número de espécies diminuiu, com o aumento do uso de neonicotinoides
Um polêmico pesticida que se tornou um dos mais utilizados no mundo foi, pela primeira vez, associado diretamente à redução do número de aves em áreas agrícolas. Cientistas mostraram que a população de 15 espécies que se alimentam de insetos, como andorinhas e estorninhos, têm diminuído significativamente na Holanda, ao longo dos últimos 20 anos, com o aumento do uso de pesticidas neonicotinoides, ou neônicos, que começaram a ser utilizados nos anos 1990.
Segundo os pesquisadores, os resultados sugerem que os neonicotinoides, que também são associados à diminuição do número de abelhas e outros insetos polinizadores, pode ter impactos ainda mais negativos sobre o meio ambiente, em relação ao que já se acreditava.
O estudo é o primeiro a encontrar uma correlação direta entre o produto, fabricado pela empresa alemã Bayer Cropscience, e o declínio de aves. A expectativa é que os resultados aumentem a pressão sobre o governo do Reino Unido para mudar sua postura tolerante em relação a neonicotinoides, considerados, até então, seguros para o meio ambiente.
Ecologista da Universidade de Radboud, na Holanda, Caspar Hallmann disse que havia uma ligação forte e estatisticamente significativa entre os níveis de concentrações de uma substância química chamada imidacloprida, encontrada em águas de superfície, e o registro de diminuição de diversas espécies de aves, como a toutinegra, cotovias e tordos, compilado anualmente por ornitólogos.
– Em locais onde a concentração de imidacloprida na água passa de 20 nanogramas por litro, as populações de aves tendem a diminuir em 3,5%, em média, a cada ano. Isto significa que, dentro de dez anos, 30% da população dessas aves estaria em declínio – disse ele. – Esta não é, definitivamente, a prova de que o produto causa as mortes. No entanto, há uma linha de evidência sendo construída para explicar o que está acontecendo. Sabemos que o número de insetos também caiu nestas áreas e que os mesmos são um alimento importante para estas aves.
No mês passado, um grupo de pesquisadores analisou centenas de estudos publicados sobre neonicotinoides e descobriu que estavam ligados ao declínio de uma grande variedade de vida selvagem – de abelhas a minhocas e borboletas – que não são as pragas-alvo dos inseticidas.
O estudo mais recente, publicado na revista Nature, procurou analisar as variações das populações de uma grande variedade de espécies de aves em diferentes zonas da Holanda, antes e depois da introdução do imidacloprida em 1995.
– Também levamos em consideração outros fatores que possam estar relacionados ao declínio destas aves. Mas nossa análise mostra que o imidacloprida foi de longe o melhor fator explicativo para as diferentes tendências registradas nas áreas – disse o professor Hans de Kroon of Sovon, do Centro Holandês para Campo Ornitologia, que supervisionou a pesquisa.
– Os neonicotinóides sempre foram considerados toxinas seletivas. Mas nossos resultados sugerem que eles podem afetar todo o ecossistema. Este estudo mostra o quão importante é ter bons dados de campo, e analisá-los com rigor – disse o professor de Kroon.
Os pesquisadores não conseguiram encontrar um declínio comparável em aves antes da introdução do imidacloprida e não foram capazes de vincular os declínios em aves a mudanças nos métodos de cultivo ou uso da terra. Eles acreditam que a explicação mais provável é que os neonicotinóides estão causando escassez de alimentos para as aves que comem insetos, especialmente quando estão alimentando seus filhotes.
A União Europeia introduziu uma moratória de dois anos sobre determinados usos de neonicotinóides. No entanto, estes pesticidas são amplamente utilizados no tratamento de sementes para cultivos aráveis. Eles são criados para serem absorvidos pela muda em crescimento e são tóxicos para o sistema nervoso central de pestes que prejudicam o plantio.
Ao comentar o assunto, representantes da Bayer disseram que a pesquisa não apresenta argumentos aceitáveis.
//-