Clonagem Humana; Bom ou mau?

A clonagem de seres vivos tem sido um vasto campo de experimentos científicos há várias décadas, porém o tempo só chegou ao público em 1997 quando foi anunciada a primeira clonagem bem sucedida de um mamífero – a ovelha Dolly. Desde então, vários cientistas expressaram o objetivo de clonar um ser humano. Além da ovelha Dolly, muitos animais já foram clonados, tais como ratos, vacas, outras ovelhas e recentemente, uma gata de estimação chamada Cc.

Alguns países sancionaram leis proibindo a clonagem de seres humanos. Porém para os cientistas quaisquer leis não são um impeditivo. Portanto há pouca chance de se impedir legalmente a clonagem de seres humanos.

Os custos de uma clonagem são bastante elevados, porém recursos financeiros não faltam para o desenvolvimento desta tecnologia para obter fama e uma possível fortuna, ou por razões emocionais: o desejo de duplicar uma pessoa querida que está doente ou que já faleceu.

Aqueles que se opõem à clonagem humana afirmam que a raça humana está tomando um caminho bastante perigoso e possivelmente irreversível que pode trazer graves conseqüências ao mundo. Eles lembram que a tecnologia de clonagem é ainda bastante pobre. A média de sucesso em experiências de clonagem é de apenas 3%. Muitos clones nascem defeituosos e morrem pouco após seu nascimento. Além disso, a duplicação de seres humanos implica em questões éticas e morais.

Neste artigo, será explicado o processo de clonagem. Vamos também analisar alguns prós e contras da prática. Na tentativa de ser objetivo e não defender qualquer ponto de vista – serão apenas apresentados argumentos sobre os possíveis benefícios e malefícios da clonagem humana.  Você é quem deve decidir se a clonagem de seres humanos deve ou não ser permitida.

A Tecnologia de Clonagem

Em janeiro de 2001, um seleto grupo de cientistas comandado por Panayiotis Zavos, ex-professor da Universidade de Kentucky e por um pesquisador italiano, Severino Antinori, anunciaram o objetivo de clonar um ser humano. Eles e quaisquer outros cientistas que desejem clonar seres humanos provavelmente utilizarão o mesmo procedimento que foi usado para criar a ovelha Dolly. Esta técnica de clonagem é chamada de transferência nuclear da célula somática.

A transferência nuclear da célula somática tem início quando o médico tira o óvulo de uma doadora e remove o núcleo do óvulo. Fazendo isso, ele cria um óvulo desprovido de núcleo. Uma célula contendo DNA é então retirada da pessoa que está sendo clonada. Por meio de eletricidade, o óvulo desprovido de um núcleo é fundido com a célula contendo o DNA do ser humano que está sendo clonado. Forma-se então um embrião, que é implantado na mãe de aluguel, aquela que forneceu o óvulo. Caso o procedimento seja bem-sucedido, a mãe de aluguel dará à luz à uma cópia exata da pessoa clonada (de quem foi retirado a célula com DNA) ao fim de um período normal de gestação.

Este mesmo procedimento foi usado para criar a ovelha Dolly em 1997. Ian Wilmut e seus colegas no Instituto Roslin em Edinburgo, na Escócia, transplantaram o núcleo de uma glândula mamária de uma ovelha Finn Dorsett num óvulo desprovido de núcleo de uma ovelha blackface escocesa. A fusão do núcleo ao óvulo foi realizada por meio de eletricidade que também resultou numa divisão celular. A nova célula, agora dividida, foi implantada no útero de uma ovelha blackface. Alguns meses depois nasceu a ovelha Dolly. Ela é geneticamente idêntica à ovelha Finn Dorsett e não à blackface, que serviu como sua mãe de aluguel. A clonagem foi bem sucedida, mas foram necessárias 276 tentativas para criar Dolly. Desde então, ela se desenvolveu e se tornou apta a procriar de forma natural.

A tabela abaixo explica como funciona a transferência nuclear da célula somática no processo de clonagem:

Os Prós da Clonagem Humana

Nem toda forma de clonagem humana envolve a criação de um ser humano completo. Ao invés de replicar pessoas, o processo de clonagem pode ser usado para ajudar pessoas com sérios problemas médicos. Por exemplo, cientistas poderiam clonar as células de uma pessoa e consertar genes mutantes que causam doenças. Em janeiro de 2001, o governo britânico sancionou leis permitindo a duplicação de embriões humanos com fins específicos na pesquisa de doenças, Parkinson e Alzheimer.

Um dos propósitos da clonagem humana é a clonagem terapêutica, processo pelo qual o DNA de uma pessoa é utilizado para criar um embrião. Ao invés de inserir este embrião em uma mãe de aluguel, suas células são usadas para produzir células-tronco que são capazes de evoluir para diversos tipos de células do corpo. Estas células-tronco podem, portanto, serem utilizadas para criar órgãos humanos, tais como corações, fígados e pele. Estas células-tronco também podem fazer crescer neurônios capazes de curar aqueles que sofrem de doenças como o mal de Parkinson, de Alzheimer ou síndrome de Rett.

Como funciona a clonagem terapêutica

1. O DNA é extraído de uma pessoa doente.
2. O DNA é então implantado no óvulo de uma doadora, desprovido de núcleo.
3. O óvulo então divide-se como uma fertilização típica e forma um embrião.
4. Células-tronco são removidas do embrião.

5. Qualquer espécie de tecido ou órgão pode ser formada a partir destas células-tronco para tratar o doente.

Para muitos cientistas, o verdadeiro milagre da clonagem é que este novo tecido humano pode ser desenvolvido em laboratórios para substituir partes do corpo doentes ou danificadas. Como estes órgãos seriam produzidos usando células-tronco do próprio paciente, não haveria mais riscos de rejeição do transplante pelo corpo da pessoa.

A clonagem humana pode também ser utilizada por casais que não conseguem ter filhos, mas que desejam ter filhos que possuam atributos biológicos de pelo menos um dos pais. Os cientistas que trabalham para clonar humanos – os doutores Zavos e Antinori em particular – declararam que ajudar casais inférteis é o objetivo principal de sua pesquisa. O Dr. Zavos afirma que já existem muitos casais dispostos a pagar $50.000 por este serviço. Esta forma de clonagem envolveria a injeção de células de um homem estéril em um óvulo, que seria implantado no útero da mulher. A criança seria então igual ao pai.

O propósito mais polêmico de clonagem humana é o de replicar pessoas que já faleceram. Um casal norte-americano, que não se consola com a morte de sua filha, está oferecendo $50.000 para que um laboratório chamado Clonaid clone sua filha falecida, utilizando células preservadas de sua pele. Se a morte é uma tragédia para a maioria dos seres humanos – tanto de pessoas como de seus animais – alguns vêem na clonagem uma forma de amenizá-la, substituindo a pessoa ou animal de estimação por alguém com exatamente a mesma composição genética.

É um pouco irônico que muitos países do mundo que tentam banir a clonagem humana permitam o aborto. Por que a lei destes países permite que um feto seja destruído, mas não autoriza o sacrifício de embriões para a criação de vidas novas? Este é, contudo, um argumento simplório, pois não leva em consideração as ramificações da clonagem humana em si e apenas argumenta com as lógicas da lei.

A clonagem de seres humanos tem um aspecto social e familiar. Muitos homens e mulheres desejam ter filhos biológicos sem necessariamente estar casados. Homossexuais, por exemplo, teriam a oportunidade de ter filhos que compartilhem de suas características genéticas. Mas este argumento pode também ser considerado um aspecto negativo da clonagem. Pessoas que acreditam nos fortes valores familiares – que uma criança deve crescer com um pai e uma mãe – considerariam isto uma razão para banir a clonagem humana.

Os Contras da Clonagem

Foram necessárias 276 tentativas para a duplicação da ovelha Dolly. Recentemente, uma gata doméstica chamada Cc foi clonada, após 87 tentativas – menos que no caso de Dolly, mas ainda apresentando uma média baixa de sucesso. Será que a sociedade permitiria a morte de tantos embriões e de recém-nascidos até que a tecnologia da clonagem se aperfeiçoasse? O próprio Ian Wilmut disse que os projetos de clonagem humana são um crime irresponsável. A tecnologia de clonagem está ainda em seus estágios iniciais, e quase 98% das tentativas de clones não obtêm sucesso. Os embriões geralmente não são adequados para serem implantados no útero, ou morrem durante a gestação ou pouco antes do nascimento.

Os poucos clones que sobrevivem ao processo costumam não ter vida longa ou saudável. Normalmente têm problemas com órgãos tais como o coração, sofrem de sistema imunológico fraco e morrem pouco após o nascimento. É quase certo que o mesmo venha o ocorrer com os primeiros clones humanos. As crianças poderiam morrer no parto, nascer com deficiências físicas, e provavelmente faleceriam prematuramente. Pode nossa sociedade permitir o sofrimento dos primeiros clones humanos para colher os benefícios quando a clonagem estiver aprimorada? Esta provavelmente é a questão mais difícil a respeito da clonagem humana.

Também existe a polêmica de que a clonagem de seres humanos produziria bebês planejados. As crianças se tornariam como qualquer outra comodidade que adquirimos: tamanho, cor e outros traços seriam pré-determinados pelos pais. O mistério da individualidade humana seria uma coisa do passado. Ademais, crianças que forem clones de pessoas que já faleceram poderão ser consideradas meramente a continuação da vida daqueles que já se foram.

Porém, deve-se lembrar que clonagem humana não significa ressurreição. Um clone pode ser idêntico a um ser humano clonado, mas isto não significa que são a mesma pessoa. Irmãos gêmeos, por exemplo, são duas pessoas diferentes. Se um gêmeo morresse, nenhum pai ficaria intocado porque uma pessoa fisicamente idêntica permanece viva.

Sempre há uma questão religiosa relativa à clonagem de seres humanos. Muitos acreditam que a criação de vida é assunto exclusivo do Criador. Eles acreditam que a vida é uma dádiva Divina, que deveria estar além dos poderes humanos. A Igreja acredita que a alma é criada no momento da concepção, e por isto o embrião merece proteção. Para aqueles que concordam com a Igreja, a tecnologia não-aperfeiçoada da clonagem significa assassinato em massa.

Quando a possibilidade de duplicar seres humanos foi anunciada, muitos temeram que vilões de nossa história seriam trazidos de volta à vida. Mas, a não ser que acreditemos que o mal está presente no gene de uma pessoa, isto não é um motivo de preocupação. Como discutimos acima, a clonagem somente duplica o corpo, não necessariamente o caráter ou personalidade de uma pessoa. A mesma pessoa não voltaria ao mundo, e sim alguém fisicamente idêntico seria criado.

A clonagem de seres humanos pode causar graves efeitos em nossos relacionamentos familiares. Um pai pode ter um filho idêntico a ele, e estar feliz com o fato, mas como isso afetará a relação entre filho e mãe? Ele crescerá e ficará igual a seu pai – o homem pelo qual ela se apaixonou e com quem se casou. O mesmo também vale para uma filha que nasceria fisicamente idêntica à sua mãe. Como isso afetaria o seu relacionamento com o seu pai?  Ao analisar os prós e contras da clonagem humana, temos que pensar como isto afetaria outras pessoas em nossa sociedade. Um outro exemplo: um casal tem um filho clonado igual ao pai, e o casal eventualmente se divorcia. A esposa agora odeia seu ex-marido, mas seu filho é fisicamente idêntico ao homem que ela menospreza. Como isso influirá em seu relacionamento?

Conclusão

Neste artigo foi tentado abordar o processo de clonagem humana. Também foram apresentados alguns argumentos a favor e contra o processo. Existem muitos outros aspectos – científicos, morais e religiosos – a serem analisados. O núcleo da questão é se seres humanos estão preparados para lidar com esta nova tecnologia que pode ser uma grande fonte de benefícios ou malefícios para a humanidade. Todos nós devemos analisar as possíveis conseqüências da clonagem humana, pois ela é sem dúvida, uma das mais controversas e revolucionárias novidades da nossa história.

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