Na comunidade científica ainda há dúvidas sobre se o confinatus existiu mesmo. O registo fóssil e a imprensa da época dão suporte inequívoco, mas é difícil compreender como a especiação do sapiens criou o confinatus.
O Homo confinatus é uma espécie animal do género Homo que apareceu no final da época do Holoceno na transição para o Socioloceno.
O Homo confinatus era muito sedentário e saía apenas para fazer compras de bens essenciais à sobrevivência diária. Os espécimes viviam em núcleos familiares muito reduzidos em função do seu processo de especiação. Os que tinham família mantinham-se juntos até à morte ou até se zangarem. E os que não tinham companheiros viviam até à morte em isolamento e solidão. As oportunidades legais de formação de casais eram apenas duas, em que o isolamento total era parcialmente violado: no elevador e à porta da mercearia. Há registo de casais que se formavam de forma ilegal e mesmo em festas, também banidas.
A principal atividade do confinatus era o teletrabalho. Alguns recebiam dinheiro por essa atividade, mas outros não. O teletrabalho incluía atividades úteis e produtivas, mas também atividades inúteis e ainda a ausência de atividade ou a visualização de filmes e séries na Netflix.
Havia ainda a atividade do teledesemprego. Que consistia em estar desempregado, mas em casa e a olhar para o computador.
Esta espécie era coeva com o Homo rebelus. O rebelus era minoritário na sociedade. Mas gostava de trabalhar, viajar e conviver. Algumas das inovações desse período eram feitas por rebelus após autorização prévia dos líderes dos confinatus. Havia ainda rebelus que faziam coisas úteis mesmo sem autorização.
A principal característica do confinatus era a total ausência de objetivos na vida. A sua métrica de atuação era o número de mortos diários resultantes de uma causa de morte apenas de que eles tinham medo. A característica psicológica central do confinatus era ser motivado apenas por este objetivo diário. Os confinatus não eram todos iguais mas todos tinham o mesmo objetivo na vida.
Os confinatus denunciavam-se uns aos outros. Por exemplo quando alguma mutação genética fazia com que um tivesse um objetivo diferente, como a felicidade. Ou ainda se mostrasse interesse nalguma coisa que não fosse a sobrevivência quotidiana. A denúncia e recriminação de vizinhos era comum. Os confinatus tinham o hábito de culpar os doentes quando eles adoeciam. E gostavam de criar cinturas adicionais de isolamento aos enfermos.
As telerrelações não eram favoráveis à propagação da espécie e os confinatus tinham taxas de fertilidade muito baixas. Os especialistas dividem-se sobre a causa da extinção do confinatus. Se o saldo populacional natural negativo, se a ausência de produção suficiente, se a substituição no território pelos rebelus que se reproduziam mais ou ainda se vítimas de alguma pandemia viral. O que parece certo é que o seu modo de vida não era sustentável embora isso não fosse aparente durante o Socioloceno.
Havia duas subespécies de confinatus, a publicus e a privatus. As subespécies eram compatíveis e havia famílias com membros das suas subespécies. Os privatus eram mais numerosos, mas os publicus eram mais poderosos. Com o passar do tempo os telempregos eram passados de pais para filhos com a consequência de que as famílias mistas acabavam por ser compostas apenas por publicus. As famílias compostas exclusivamente por privatus tinham de pedir a um publicus que lhes desse algum subsídio ou teletrabalho. Os publicus faziam o melhor que podiam, mas era comum não haver dinheiro suficiente para dar aos privatus.
A extinção das duas subespécies terá sido simultânea. Os paleontólogos debatem se o último confinatus terá sido um privatus que tinha um meio de subsistência desconhecido dos publicus. Ou se terá sido um publicus que após o desaparecimento dos privatus ficou apenas com o produto do seu teletrabalho e que era insuficiente para alimentar a sua família.
Uma terceira alternativa é que os confinatus decidiram de forma abrupta e catastrófica mudar de vida e juntar-se aos rebelus. É esta espécie, mais adaptada à vida na terra onde desde há algum tempo existem germes de vários tipos, que sobrevive até aos nossos dias.
Na comunidade científica ainda há dúvidas sobre se o confinatus existiu mesmo. O registo fóssil e a imprensa da época dão suporte inequívoco, mas é difícil compreender como a especiação do sapiens criou o confinatus.
Fonte: jornaldenegocios.pt
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