ORGANISMO GENETICAMENTE MANIPULADO (OGM): ser vivo em cujo genoma foi inserido ADN de outra espécie (o gene estranho designa-se transgene). A manipulação genética é uma área de investigação de ponta (tem estado muito na berra a questão da clonagem de humanos) e oferece, sem dúvida, possibilidades exaltantes para o bem-estar da Humanidade (terapia genética, fabricação de tecidos biológicos, etc.) mas também levanta muitas questões.
Eles estão entre nós
É na agricultura que tem havido mais investimento nesta área. Mas os alimentos transgénicos assustam. 88% dos franceses afirmam-se inquietos face aos riscos eventuais ligados a estes produtos. E no entanto, num estudo da 60 Millions des Consommateurs, 9 em 45 alimentos analisados continham transgénicos, sem qualquer menção nesse sentido. Isto apesar do draconiano regulamento europeu da rotulagem, que obriga à menção específica «feito a partir de organismos geneticamente manipulados».
Foi a firma americana Monsanto quem primeiro conseguiu a permissão da Comissão Europeia para a exportação de soja transgénica para a UE, há 2 anos. Depois da colheita do Outono os cargueiros cruzaram o Atlântico, sendo-lhes negada a entrada em todos os portos europeus (apesar do parecer favorável da Comissão) até que vieram bater à nossa porta. Nós abrimo-la, por decisão da nossa ministra do Ambiente.
Actualmente é negada aos europeus a possibilidade de optar comer transgénico ou não, porque para um produto ser obrigado a ter no rótulo «contém OGM» é necessária a presença de proteínas transgénicas. Ora, as proteínas são alteradas durante o processo de transformação, podendo não ser detectáveis no produto final. Para os responsáveis da UE, só uma proteína pode ter efeitos prejudiciais à saúde, «nunca ninguém demonstrou que um pedaço de ADN possa provocar uma alergia».
No entanto 180 000 ton. de soja transgénica já entraram na Europa, a quase totalidade da qual nunca apareceu devidamente identificada nas prateleiras dos estabelecimentos. A soja é usada em 2/3 dos alimentos transformados, o milho em 1/3 (estes são os dois principais produtos transgénicos). Na produção americana de soja de 96 os transgénicos representavam 5% do total. Este ano são 30%. E os americanos não fazem triagem, portanto o milho transgénico chega aos nossos portos misturado com o milho convencional. Separamos, não separamos? A manutenção de duas cadeias de transporte (com e sem OGM) do produtor ao consumidor seria muito cara. Face a isto, e como os nossos legisladores de Bruxelas prevêem que os OGM se tornem preponderantes no mercado, para um alimento possuir a etiqueta «não contém OGM» deverá ser essa empresa a fazer a triagem e comprovar a ausência de OGM, com elevados custos que recairão naturalmente no consumidor. Comer sem OGM, um luxo?
O Supremo Tribunal Francês apelou ao Tribunal de Justiça Europeu para banir o milho Novartis (uma outra empresa). O milho Novartis foi modificado para alguns insectos ao produzir uma toxina de Bacillus Turingiensis e ser tolerante ao herbicida glufosinato. Também foi inserido na planta um gene de resistência ao antibiótico Ampicilina. Está provado cientificamente que o milho mata insectos benéficos e cria, nas pragas, resistência à toxina, usada como insecticida pelos agricultores «orgânicos».
Sim ou não?
Os riscos ligados aos produtos geneticamente manipulados são de três ordens: saúde, agricultura e ambiente.
Os riscos para a saúde são claros: se estamos a introduzir ADN bacteriano num tomate, como saber que este não vai produzir toxinas? Uma pessoa com alergia a morangos ao comer inocentemente uma cenoura pode estar a mastigar proteínas às quais é alérgica… Podem parecer pruridos exagerados, mas já aprendemos da maneira difícil que não se deve brincar com a ordem natural das coisas. Alimentámos vacas com vacas e criámos uma versão nova da Kreutzfeld-Jakob. A única maneira de evitar que tal se repita é ter cuidado e fazer as coisas às claras – no que respeita aos transgénicos nem uma coisa nem outra se tem verificado.
Para a agricultura os OGM não só não resolvem os problemas já existentes como os agravam. Pelas leis da Natureza a viabilidade de uma espécie depende da sua variabilidade genética. É esta que permite que o indivíduo responda a agressões inesperadas. Os OGM são, em contrapartida, estirpes de laboratório, de variabilidade muito restrita, com uma muito baixa plasticidade fenotípica. O tempo de vida de uma estirpe geneticamente manipulada é de 6/7 anos. Esse é o tempo que as pragas demoram a adaptar-se às defesas da estirpe. Depois é preciso criar uma estirpe nova. Os OGM também agravam a dependência da agricultura face à indústria química, como a variedade de soja Round Up, da Monsanto, criada para resistir ao herbicida do mesmo nome da mesma empresa.
E se é assustadora, só por si, a perca de biodiversidade a que conduziu a agricultura moderna, de monocultura e de abuso de químicos que desregulam os ciclos naturais – que os OGM só vêm agravar – existem outras consequências, essas imprevisíveis. É que os transgénicos agem, eles próprios, sobre o meio que os rodeia. Já foi comprovada a ocorrência de alterações na flora microbiana das raízes de transgénicos. E os OGM, uma vez soltos no mundo, porque é que não hão-de evoluir à sua maneira? É muito provável que surjam espécies novas, na ausência de barreiras à polinização. Espécies super-resistentes, infestantes que não possamos travar…
Não devemos ser fanáticos. Anda por aí muita polémica, muita moral e muita religião à volta da manipulação genética. Por esses caminhos não me meto. Acho que devemos é ser um pouco desconfiados e ter a ética sempre presente. A biotecnologia não é, por si só, uma coisa má, mas as suas aplicações podem ser. E caso o sejam merecem sempre a nossa atenção e o nosso repúdio.
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